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História Alternativa da Terra 01

AS LINHAS DE NAZCA

Autor Gilberto Schoereder
27/05/2021

As chamadas “linhas de Nazca”, no Peru, estão entre os maiores mistérios da região.


Vista aérea do Beija-Flor (Foto: Diego Delso, delso.photo, License CC-BY-SA/ Wikimedia).

Talvez dizer que as linhas de Nazca estejam entre os maiores mistérios da região seja pouco, uma vez que não existe nada comparável no planeta. E se as imensas construções na região dos Andes já deixam os seguidores da teoria dos “antigos astronautas” animados, as linhas encontradas no deserto ao sul do Peru são um prato cheio.
As linhas formam desenhos geométricos ou de animais e seres desconhecidos, e cobrem uma imensa região com cerca de 500 quilômetros quadrados. Geralmente, só podem ser percebidas claramente quando vistas do ar ou das colinas próximas. As linhas retas mais extensas chegam a dezenas de quilômetros, e os desenhos ocupam centenas de metros. Para fazer os desenhos – seja lá qual tenha sido o povo responsável ou qual tenha sido sua intenção – bastou remover a camada de pequenas pedras que cobre o solo, expondo os estratos inferiores. Como o clima na região é praticamente inalterável, os desenhos permaneceram intocáveis por séculos.
Oficialmente, atribui-se a realização da obra em um período entre os anos 500 a.C e 500, pela população local conhecida como Nazca. Para alguns cientistas, o objetivo seria o de criar figuras que pudessem ser vistas pelos deuses no céu; outros entendem que as linhas serviam como um observatório astronômico primitivo, da mesma forma que vários outros povos do planeta fizeram. Alguns arqueólogos propuseram que algumas das figuras, senão todas, representam constelações; outros, ainda, que eram formas de adoração de deuses.

Linhas semelhantes a pistas de aterrisagem (Foto: Leon Petrosyan/ Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0 International/ Wikimedia).

Para os pesquisadores alternativos, as linhas podiam ser recados para os “deuses”, entenda-se extraterrestres, que estiveram na região em épocas recuadas, como um chamado para que retornassem. Outros, seguindo a mesma linha, chegaram a propor que se tratava de indicações de pouso e direções a seguir para os extraterrestres, o que parece uma ideia bem forçada; será que seres que atravessam a galáxia teriam problemas em se localizar na Terra?
Seja como for, a região é coberta por centenas de desenhos de vários tipos, e ainda em 2020 novos desenhos estavam sendo encontrados e, segundo alguns cientistas que estudam a região, ainda mais deverão ser encontrados nos próximos anos.

A primeira menção às linhas surgiu em 1553, no livro Crónicas del Perú, de Pedro Cieza de Léon, um dos espanhóis conquistadores da região, ainda que ele tenha visto as linhas apenas como marcadores para facilitar as viagens pela região.
Só no século 20 é que as linhas começaram a ser vistas em sua complexidade, quando pilotos de aviões militares e civis sobrevoaram a região. Em 1927, o arqueólogo peruano Toribio Mejia Xesspe conseguiu perceber a existência das linhas quando estava andando pelas colinas próximas, e elas começaram a ser oficialmente discutidas e estudadas.
Em 1939, o historiador norte-americano Paul Kosok fazia um voo de reconhecimento pela região para estudar possíveis obras hidráulicas dos antigos povos peruanos, quando percebeu as figuras e, com os estudos que passou a fazer na sequência, as linhas chamaram a atenção de estudiosos de todo o mundo.
Entre os principais estudos estão os da arqueóloga e matemática alemã Maria Reiche Grosse-Neuman, que vivia no Peru desde 1932, iniciando suas pesquisas em 1940, depois de trabalhar como assistente de Paul Kosok. Ela passou a viver nas proximidades das linhas de Nazca e foi tida não apenas como a mais profunda conhecedora da região como também a protetora das linhas, realizando amplo trabalho de levantamento dos desenhos e linhas, de ângulos e orientações.

Vista aérea da Aranha, um dos geoglifos mais conhecidos de Nazca (Foto: Diego Delso, delso.photo, License CC-BY-SA/ Wikimedia).

Os pesquisadores alternativos entendem que a ideia de que as linhas serviam como observatório astronômico não faz sentido. Eles perguntam: se as linhas só podem ser vistas do alto, como os agricultores poderiam basear-se nelas para calcular estações propícias para o cultivo, ou mesmo como poderiam servir de referência astronômica ou como parte de algum culto religioso ou místico? Se tivessem sido construídas para servir de orientação de algum tipo, seria a pior forma possível de fazê-lo. Na maioria dos casos, uma pessoa em pé no centro de um desenho sequer consegue perceber visualmente onde ele começa e onde termina, e muito menos o que representariam as linhas traçadas.
O cronista Huamán Poma (1535-c. 1616) era um nobre de origem quíchua que levantou a antiga crença ou lenda do Peru segundo a qual os deuses teriam vivido na Terra em épocas imemoriais. Para ele, essa crença poderia ter levado os habitantes da região a realizarem os desenhos. Assim, pela lenda, quando os deuses mudaram sua natureza, transformaram-se em animais dotados de poderes sobrenaturais e, depois, subiram aos céus, identificando-se com as estrelas. Dessa forma, assim como hoje em dia identificamos algumas constelações com animais como o escorpião ou o leão, os indígenas da época teriam feito o mesmo. Segundo os especialistas nas antigas civilizações peruanas, os animais sempre tiveram papel preponderante nas mitologias locais, surgindo como auxiliares dos deuses, fazendo parte do sistema totêmico. Dessa forma, ficaria fácil explicar as figuras desenhadas como oferendas aos deuses contra a fome e os problemas causados pelas dificuldades impostas pelo clima e geografia da região. O tamanho monstruoso dos desenhos teria como objetivo facilitar a visão dos deuses no alto, que então retribuiriam com favores, em um ritual verificado em inúmeras civilizações em todos os tempos da história humana. Portanto, o mesmo pensamento que levou uma série de pesquisadores da linha alternativa a imaginar que os deuses/extraterrestres realmente estiveram vivendo na Terra em épocas remotas, também serve para fornecer outros tipos de explicações.

Vista aérea do Astronauta, certamente o desenho mais citado pelos defensores da teoria dos antigos astronautas (Foto: Diego Delso, delso.photo, License CC-BY-SA/ Wikimedia).

Essa abordagem que vê as linhas com funções ligadas à astronomia é comum a inúmeras obras de engenharia e arquitetura de tempos pré-históricos ou mesmo históricos, nos mais diversos pontos do planeta. Parece que o próprio Paul Kosok foi o primeiro a levantar essa noção com relação a Nazca. Segundo ele, com o objetivo de resolver os problemas de água relativos à região, os sacerdotes de Nazca tiveram de ampliar o leque possível de observações e previsões a respeito do tempo e, assim, percebendo que os corpos celestes tinham participação nas estações e no clima terrestre, desenvolveram uma ciência astronômica com o objetivo primordial de produzir um calendário que pudesse ajudá-los nos processos agrícolas. Da elaboração de sinais no chão até a construção de um vasto complexo de sinais e desenhos, voltados não mais e não apenas para a construção de um calendário, mas também como forma de verdadeira adoração religiosa, teria sido apenas uma questão de tempo.
Claro que continua valendo a observação dos pesquisadores alternativos a respeito da dificuldade de orientar-se corretamente a partir de desenhos que não podiam ser vistos do chão.
Simone Waisbard levantou a questão de que os desenhos não parecem ter sido feitos na mesma época, uma vez que existem sinais de que alguns deles passam por cima de outros, mais antigos. Assim, entendeu que a realização da obra durou várias gerações, com as figuras sendo feitas posteriormente às linhas e, por sua vez, sendo frequentemente cobertas pelos imensos planos geométricos.

Os arqueólogos concordam que o sistema empregado na realização das obras seria o da “raspaje”, ou raspagem do solo, aproveitando as características naturais do solo da região, que possui uma camada mais escura à superfície. Assim, os cascalhos foram empurrados, tirados da superfície, e empilhados dos lados, expondo o terreno mais claro. O que aparentemente é um trabalho simples e fácil revela-se, com os estudos, bastante complexo, implicando no deslocamento de toneladas de cascalho, em uma obra que demorou séculos para ser terminada.
Sabe-se que mais de uma vez foi solicitado a engenheiros que dessem sua opinião a respeito da obra e de como ela poderia ter sido realizada, e não foram poucos os que afirmaram que, mesmo utilizando-se de instrumentos modernos, teriam imensas dificuldades em traçar as marcas, ainda mais considerando-se que o local não é uma superfície sem ondulações, possuindo colinas e depressões que, no entanto, não impediram a elaboração das linhas e figuras. Waisbard, no entanto, levantou uma série de medidas utilizadas pelos habitantes de Nazca, talvez já há dois mil anos, um verdadeiro sistema métrico. Assim, poderiam ter realizado os desenhos utilizando um sistema geométrico conhecido hoje em dia como homotetia, que consiste basicamente na duplicação ou ampliação geométrica de um desenho de menor dimensão. E mais, teria sido descoberto um instrumento de cerâmica semelhante aos atuais goniômetros, cuja finalidade é medir ângulos à distância.

A Árvore (Foto: Diego Delso, delso.photo, License CC-BY-SA/ Wikimedia).

Esse grande conhecimento de geometria e proporções atribuído à cultura de Nazca, permitindo-lhes traçar as linhas sem qualquer referência aérea, não mudou o posicionamento da maioria dos pesquisadores da linha alternativa, que entendem que as pessoas que realizaram a obra de Nazca ou tiveram auxílio de seres que podiam observar os desenhos do alto, ou foram feitos por esses seres, que poderiam ser os extraterrestres que visitaram a região.
A proposta da participação dos extraterrestres nas antigas civilizações do Peru é quase sempre vista como um exagero por parte dos arqueólogos e historiadores, mas mesmo para aqueles que gostam de deixar a possibilidade em aberto, isso não significa que a proposta deva ser aplicada a todas as realizações encontradas pelas civilizações antigas, de modo que a de Nazca poderia ser facilmente explicada sem voltar a atenção para a presença de extraterrestres.
Na verdade, existe ainda uma linha de pesquisa científica que acredita que os antigos habitantes de Nazca teriam conhecimento das técnicas de voo com balões. Em 1975, por exemplo, o International Explorer Society, dos EUA, realizou uma experiência semelhante àquela de Thor Heyerdahl ao atravessar o oceano em uma jangada. Utilizando apenas material disponível na região e técnicas que seriam conhecidas na época em que se supõe que tenha existido a civilização local, conseguiram construir um balão e fazê-lo voar sobre Nazca com relativo sucesso. Claro que o simples fato deles terem conseguido fazê-lo não é prova conclusiva de que os homens do passado também o tenham feito, mas pelo menos elimina o argumento de que eles não teriam possibilidade de realizar um voo.
Outros pesquisadores levantam uma série de evidências de que a ideia de voar era uma constante nos povos dos Andes, e até mesmo de prováveis imagens desses objetos voadores gravados em cerâmicas e outros objetos encontrados na região. Até mesmo em Tiahuanaco, na Porta do Sol, os homens voadores aparecem cercando Viracocha, e trata-se então de seguir por uma ou outra linha de pensamento. Os que entendem que os motivos de seres voando referem-se a extraterrestres baseiam-se principalmente nos relatos lendários a respeito da origem do povo dos Andes. Aceitando-se a noção de que os antigos andinos realmente conheciam a arte de voar em balões, é possível imaginar-se que as gravações do solo tivessem, então, a finalidade de orientar esses homens voadores, ao mesmo tempo que, com sua ajuda, poderia ter sido mais fácil realizar a obra.

Os pesquisadores da linha alternativa por vezes enfurecem-se com a forma como seus argumentos são relegados a segundo plano, com historiadores e arqueólogos afirmando que se tratam apenas de lendas, mas ao mesmo tempo utilizando essas mesmas lendas para reforçar seus pontos de vista. Um exemplo disso pode ser visto em uma frase aparentemente bastante simples e que está relacionada com antigas crenças das populações andinas, que diz que, em tempos distantes, a distância entre o céu e a Terra era bem menor e que os homens aí subiam e desciam corporalmente.
Waisbard cita esse pensamento em seu livro sobre Nazca, entendendo que pode ser uma mostra de que os andinos seriam capazes de subir a elevadas alturas com seus balões. Mas o conceito pode igualmente ser visto do ponto de vista dos pesquisadores da linha alternativa, supondo que qualquer tipo de nave fazia essa transição entre céu e Terra, mais ou menos como surge nos textos bíblicos de Ezequiel e Enoch. Trata-se de pontos de vista completamente distintos, e mesmo as pesquisas científicas a respeito de Nazca, como de tantas outras localidades, têm poucas evidências a apoiá-las.
Por outro lado, a Eros Data Center, empresa que comercializava as fotografias obtidas pelos satélites Erts, pelo Skylab e pelo projeto Apollo, divulgou fotografias publicadas na revista Kadath em que, apesar de toda a tecnologia disponível, do espaço não era possível divisar as linhas traçadas em Nazca, ainda que os rios da região aparecessem claramente. Essa verificação parece ter acabado de vez com os argumentos a favor de uma observação aérea, além do que, observam alguns estudiosos, uma observação aérea a baixa altitude, só poderia ser utilizada como forma de ajudar da realização dos desenhos se houvesse algum tipo de comunicação entre a terra e a pessoa que estivesse no ar, por meio de um aparelho de rádio, por exemplo.

O Gigante de Atacama (Foto: Emilio Erazo-Fischer/ Flickr/ Wikimedia); e O Gigante de Atacama em desenho que mostra mais claramente sua forma (Wikipedia).

Mais para o sul, no deserto de Atacama, na região de Tarapacá, no Chile, a cerca de 750 quilômetros de Nazca, foram feitas descobertas arqueológicas em 1968 que alguns estudiosos entenderam que poderiam ter relação com os de Nazca. Em um enorme paredão com cerca de 100 metros de altura existe um desenho de uma figura humanoide, que ficou conhecido como O Gigante de Atacama. Para uns, é uma figura humana estilizada; para outros, algo que se parece muito mais com um robô, assim como dezenas de outros desenhos encontrados em outras partes do planeta.
O formato é retangular, quase como uma caixa, com uma cabeça de formato quadrado, porém com pernas e pescoço finos. Da cabeça saem doze objetos que alguns dizem ser antenas. O local é de difícil acesso e, como ocorreu em Nazca, o desenho só pode ser visto apropriadamente de um local alto, de preferência a bordo de um avião ou balão. Ainda na mesma região diz-se que podem ser encontrados outros desenhos semelhantes, com figuras estilizadas que lembram as de Nazca, em uma extensão de cinco quilômetros. Porém, ao contrário de Nazca, muitas dessas formações foram construídas com a utilização de pedras escuras que sobressaem no terreno, quase em um processo oposto ao de Nazca, e semelhante ao que pode ser encontrado, segundo os estudiosos, no deserto do Saara.
Também no Chile encontra-se o local conhecido como El Enladrillado, que começou a ser estudado mais profundamente na década de 1960 e que, segundo alguns pesquisadores, poderia apresentar alguma relação com as gravações no solo em Nazca e Tarapacá. O local situa-se a cerca de 2.200 metros de altitude, em um planalto ou plataforma com cerca de três quilômetros de comprimento e 800 metros de largura. Tem a forma de um anfiteatro e foi construído com a utilização de blocos de rochas com cerca de 4 ou 5 metros de altura, e 7 a 8 metros de comprimento, cada bloco com cerca de 10 toneladas, o que colocaria a construção na já longa lista de obras ciclópicas da região. Ao que se sabe, ninguém conseguiu ainda definir que tipo de povo e civilização teria construído e se estabelecido naquela região. No mesmo planalto existe também uma espécie de pista com cerca de um quilômetro de extensão, que os pesquisadores da linha alternativa associaram imediatamente a uma pista de pouso, como supunham que poderiam ser as pistas de Nazca.

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