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FANTASMAS

FANTASMAS

Autor Gilberto Schoereder
27/12/2022

De aparições dos espíritos dos mortos até alucinações dos vivos, as teorias sobre os fantasmas são inúmeras. Sobrenatural ou embasado em fatos científicos, trata-se de um dos fenômenos mais persistentes da humanidade.


(Foto: Dorothe/ Pixabay).

Até onde se sabe, os fantasmas têm aparecido entre os vivos desde que a história humana começou a ser registrada. Às vezes chamados de espíritos, aparições ou assombrações, dependendo do caso e do ponto de vista, eles são considerados como manifestações de seres já falecidos, nem sempre humanos, surgindo em determinados momentos e sentidos ou vistos por algumas pessoas, em condições mais ou menos específicas.
Se a definição acima parece vaga é porque pouco se sabe de fato sobre os fantasmas; mas as teorias são inúmeras.
As histórias sobre a aparição de fantasmas dos mais variados tipos espalham-se por todas as culturas humanas, em todas as épocas, e trata-se de uma presença tão constante e impressionante que originou uma quantidade incrível de livros e de filmes, frequentemente apresentando-os como entidades assustadoras e até mesmo perigosas. Da mesma forma, despertou a curiosidade de pesquisadores que procuraram decifrar o enigma das supostas aparições, enveredando tanto pelo caminho do ocultismo quanto da espiritualidade e da ciência.
Esta última continua a afirmar que não existe qualquer prova conclusiva da existência dessas aparições, mas ramos negligenciados da ciência, como a parapsicologia, seguem por caminhos diversos, procurando evidências e realizando experimentos que possam levar a uma compreensão mais profunda do fenômeno.
Fundamental para a crença na existência de fantasmas é a crença na sobrevivência da alma ou espírito após a morte do corpo físico, uma postura que se verifica em praticamente todas as religiões e culturas do planeta, mas que é negada pela maioria dos cientistas. Segundo essas crenças, a alma ou espírito desliga-se do corpo físico no momento da morte e continua a existir em outro plano ou dimensão. Assim, em condições específicas, poderia manifestar-se em nossa dimensão, em nosso plano de vida. Ou, segundo algumas teorias, poderia de alguma forma ficar “presa” à nossa dimensão, de modo que poderia ser vista ou pressentida por algumas pessoas.

                                                                                                                                                                   (Foto: Dorothe/ Pixabay).

Historicamente, os fantasmas têm acompanhado os vivos ao longo dos tempos. Nas mais remotas civilizações conhecidas já se falava de contatos com os espíritos dos mortos e de aparições fantasmagóricas, às vezes surgindo espontaneamente, outras vezes por meio de artes mágicas, sendo convocados pelos vivos para falar sobre determinados assuntos.
A civilização dos egípcios acreditava na vida após a morte, quando os espíritos, ou a alma, chamada ka, iria para um mundo diferente do nosso. Os gregos igualmente referiam-se às aparições e, mais que isso, existem relatos de pessoas que, após morrerem, voltavam a aparecer nos mesmos lugares em que tinham vivido.
Essa última noção é uma constante nas explicações sobre as atividades dos fantasmas, sempre reaparecendo nos mesmos locais, de tempos em tempos, às vezes sempre em um dia determinado. No entanto, as investigações parapsicológicas mais apuradas verificaram que essa constância dos fantasmas é mais uma lenda do que realidade.
A ideia mais frequente sempre foi a de que os fantasmas das pessoas mortas reapareceriam nos locais em que morreram de maneira trágica ou violenta, em acontecimentos envolvendo grande trauma emocional. Os romanos já se referiam a esse aspecto, acreditando que os espíritos retornavam ao local em que o crime ocorreu e, assim, levavam o terror ao local e às pessoas que ali se encontravam. Também entre vários povos da Europa existia a crença de que alguns espíritos que, por alguma razão, não conseguiram obter o merecido repouso após a morte, perambulavam em um espaço entre os dois mundos, surgindo às vezes como fantasmas e assustando os vivos.

The Party on the Stairs (Adelaide Claxton, s.d.).

A interpretação dos fantasmas como seres assustadores permaneceu imbatível até meados do século passado, quando começaram a circular pelo mundo as notícias a respeito dos contatos com os espíritos realizados pelas irmãs Fox, e também quando começou a funcionar a Sociedade Metapsíquica, na Inglaterra, uma sociedade formada por alguns dos principais cientistas da época, que tinha como objetivo estudar meticulosamente todo tipo de fenômeno que, até então, estava ligado ao que se chamava de sobrenatural.
As experiências das irmãs Fox, ainda que não resultassem na aparição de fantasmas, indicava às pessoas que era possível entrar em contato com os espíritos dos mortos por meio de uma série de procedimentos que iam desde a resposta às perguntas por meio de leves batidas em uma mesa, em torno da qual se reuniam as pessoas interessadas no contato, até a manifestação pela voz, com os espíritos falando por um médium que entrava em transe. A popularização desse tipo de procedimento de certa forma tirou muito da imagem dos fantasmas como seres tenebrosos que só trariam o mal às pessoas. E com o surgimento e desenvolvimento do Espiritismo, a partir dos trabalhos de Allan Kardec, essa imagem dos espíritos mudou ainda mais.
Com os trabalhos da Sociedade Metapsíquica, pela primeira vez na história um grupo de pessoas procurava observar uma série de fenômenos incompreensíveis sob um novo ponto de vista, não mais encarando-os como algo que fosse uma ameaça à segurança, à sanidade ou mesmo à vida das pessoas. Ao que tudo indica, foi nessa época que surgiram os primeiros “caçadores de fantasmas”, pessoas que se dedicavam a percorrer qualquer casa ou ambiente em que se dizia existirem fantasmas, tentando de alguma forma registrar os fatos e, pela observação racional do que ocorria no local, obter algumas respostas.

                                                                                                                       A Aparição (The Apparition. James Tissot, c. 1885).

Apesar da falta de evidências levantada pela ciência, as aparições estão entre os fenômenos mais relatados entre todos aqueles ligados ao sobrenatural ou ao insólito. E, mesmo com milhares de relatos coletados ao longo dos séculos e de tantas observações realizadas por parapsicólogos, não existe uma definição sobre o tema.
É comum que espíritas e estudiosos do ocultismo não concordem com o que os estudos científicos apuraram sobre o assunto, e mesmo nos meios parapsicológicos existem pontos de vista diversos e, às vezes, opostos, quando se trata de definir ou explicar o fenômeno.
Uma das posturas mais comuns é relacionar o surgimento de fantasmas, e mais especificamente as assombrações, com locais específicos, ou seja, as chamadas casas assombradas, que a literatura e o cinema de terror exploraram ao extremo.
Vários pesquisadores defendem a teoria de que uma das características mais comuns e marcantes, que já teria sido exaustivamente verificada por centenas de observações, é que os fantasmas surgem sempre em um mesmo local, em épocas precisas, quase sempre com a mesma duração. No que diz respeito às aparições de pessoas falecidas, os fantasmas seriam representações mais ou menos completas de pessoas, apresentando-se usando as mesmas roupas que a pessoa usava quando morreu, e tendo uma aparência nebulosa. No entanto, alguns pesquisadores discordam, entendendo que o surgimento de fantasmas não obedece a leis rígidas, podendo variar bastante, tanto quanto à duração do evento quanto à forma como ele se apresenta.
De forma geral, diz-se que os fantasmas têm a capacidade de atravessar objetos sólidos como se eles não existissem, o que leva cientistas a apresentar a teoria de que se trata de uma alucinação de algum tipo, e que os espíritas e ocultistas entendem que ocorre porque os fantasmas têm um corpo composto por material diferente do nosso.
Também é comum se dizer que os fantasmas, quando surgem, sempre repetem os mesmos gestos e atos, sem prestar atenção às pessoas vivas que possam estar no local. No entanto, estudiosos afirmam que existem casos registrados de fantasmas que observaram e interagiram com as pessoas presentes, chegando a fazer gestos ou até mesmo responder a perguntas.
Seu surgimento em um local é precedido por uma queda considerável na temperatura; algumas vezes, o local onde o fantasma apareceu indica temperaturas vários graus abaixo de um local distante apenas alguns centímetros.

Atenodoro Confronta o Espectro (Athenodorus Confronts the Spectre. Ilustração de Henry Justice Ford, para o livro The Strange Story Book, de Leonora Blanche, 1913).

As lendas a respeito dos fantasmas nos passaram a ideia de seres arrastando correntes e fazendo outros barulhos horrendos, e elas podem ter origem no fato de que os ruídos são parte integrante das aparições, sejam passos, barulhos variados no chão ou nas paredes, risos, choros e estrondos indefinidos.
Outra noção bastante difundida é a de que os fantasmas teriam sofrido, em sua vida na Terra, uma morte violenta ou que tenha provocado desgaste psicológico e emocional intensos. Dessa forma, eles retornariam sempre ao local onde morreram. No entanto, já foi verificado que isso também não é inteiramente correto; ainda que tenham sido registrados casos de fantasmas que surgem no local em que a pessoa que ele representa morreu, nem sempre é assim, ainda que o local da aparição possa estar relacionado à história pessoal do falecido. Igualmente, as datas não são seguidas de maneira rigorosa; parapsicólogos já afirmaram que as assombrações são persistentes, mas não necessariamente periódicas.
Parece óbvio que, para aqueles que acreditam na sobrevivência do espírito após a morte do corpo físico, assim como na manutenção de determinadas atitudes que tinham quando estavam vivos, os fantasmas são mais facilmente explicáveis, mas assim como ocorre com os estudos da parapsicologia, nada foi provado nesse sentido, ainda que no Espiritismo as mensagens de espíritos recebidas por médiuns sejam comuns e aceitas como prova da existência após a morte. E, mais do que isso, existem grupos que afirmam terem desenvolvido formas de comunicação com os espíritos por meio de aparelhos de televisão, câmeras fotográficas ou computadores. Mas as dificuldades em uma investigação desse tipo são tamanhas que mesmo entre esses pesquisadores existem divergências quanto às manifestações.
Houve uma época em que pesquisadores levantaram a hipótese da impregnação dos objetos. Segundo esse ponto de vista, os objetos de um determinado local poderiam ser impregnados com um tipo desconhecido de energia, que manteria uma espécie de registro dos acontecimentos, como se os objetos fossem um gravador contendo inúmeras informações. De tempos em tempos – e, talvez, despertado pela presença de um ser vivo com alguma capacidade mental desenvolvida – os objetos “soltariam” as informações, que se transformariam em materializações, repetindo as cenas que causaram algum tipo de comoção nas pessoas falecidas.

                                                                                                                                                 Aparição (Apparition. Odilon Redon, c. 1910).

A autora Rosemary Ellen Guiley – autora de diversos livros sobre paranormalidade e sobre misticismo, e também investigadora do paranormal – disse em seu livro The Encyclopedia of Ghosts and Spirits (1992) que, em termos antropológicos, os fantasmas pertencem ao reino da liminaridade, um termo pouco conhecido que explica uma situação limiar de transição, envolvendo um estado de ambiguidade ou de desorientação; ou, como disse Guiley, “a posição intermediária e entre uma mudança, transição e transformação. As experiências limiares caem em uma fronteira indistinta entre o conhecido e o desconhecido, o real e o surreal”.
Segundo a autora, as culturas mais antigas reconheciam os fantasmas como reais, e rituais eram utilizados para evocar e canalizar entidades e poderes sobrenaturais. Ainda assim, ela diz que o reino limiar sempre foi reconhecido como sendo perigoso e enganador. “Por exemplo, os fantasmas embaçam as fronteiras entre a morte e a vida e desafiam crenças e compreensões sobre ambas”.
Os eventos situados nessas regiões limiares também apresentam problemas no que diz respeito às pesquisas científicas, desafiando os métodos científicos e comportando-se de forma errática e enganosa. Guiley diz que os fantasmas foram relatados, discutidos e estudados por milhares de anos sem resolução. “A pessoa que empreende uma pesquisa sobre fantasmas é frequentemente desacreditada ou não levada a sério tanto pelas instituições acadêmicas e científicas quanto pelo público. Na verdade, poucos cientistas e acadêmicos irão apresentar opiniões definitivas sobre fantasmas ou qualquer coisa referente ao paranormal”.

 

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